Distorções cognitivas sobre o diagnóstico de TDAH e Autismo.
O diagnóstico médico neurológico é um conhecimento da disfunção neurológica do individuo, seja criança ou adulto. Conhecimento é reconhecimentos dos fatos da realidade pela consciência humana, então, o diagnóstico médico neurológico (ex: Transtorno e Déficit de Atenção e Hiperatividade, Transtornos do Espectro Autista, entre outros) reconhece uma dificuldade do individuo assim permite organizar estratégias de tratamentos para aqueles individuo com aquela disfunção especifica, isto só é possível, porque o diagnostico permite estudos científicos para intervenções especificas para aquele diagnostico (medidas comportamentais, remédios e outras intervenções) e assim avaliar, dentro das evidências dos estudos científicos, qual a melhor intervenção para aquele individuo.
O diagnóstico quando correto é valoroso para o individuo porque direciona melhor um conhecimento sobre as dificuldades daquele individuo e quando bem direcionado o tratamento ajuda o individuo a viver melhor, no entanto, o diagnostico equivocado, leva a intervenções equivocadas o que pode acarretar malefícios. Imagina uma criança com o diagnóstico isolado de Transtorno e Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) sendo tratada como Transtornos do Espectro Autista (TEA), o primeiro tem como problema o déficit de atenção, o segundo tem com o problema o hiperfoco, com as devidas exceções, o resultado será uma piora funcional do individuo.
Toda a consciência humana é volitiva, falível e conceitual. Volitiva significa que o individuo deve se esforçar para adquirir conhecimento, ou seja, o conhecimento não é automático. Falível significa que mesmo que o individuo se esforce, ele pode cometer erros, e conceitual indica que o processo cognitivo a qual ele armazena o conhecimento é abstrata, ou seja, ele retêm as similaridades e omite as diferenças das existentes, podendo ainda se distanciar epistemologicamente das existentes através das abstrações das abstrações, como exemplo, o cachorro é um conceito diretamente observado no concreto, mas o conceito animal é um conceito ainda mais abstrato, é uma abstração de outra abstração, porque depende do conceito de primeira ordem (ex: cachorro, pássaros, formiga e etc.) , portanto o conceito animal é um conceito de outro conceito, por ser mais abstrato e distante do diretamente perceptível. Dificilmente um criança erra ao se referir a um cachorro, ele não confunde gato com cachorro, mas ao se referir a um animal, ele pode errar com mais facilidade porque ele pode não correlacionar as esponjas, as aguas vivas, as tênias, e as formigas como animal porque é um conceito que depende de outros conceitos que não é diretamente perceptíveis no concreto para o conceito animal (ex: tipo celular, numero de células, nutrição, desenvolvimento embrionário e etc), portanto mais factível de erro.
Um diagnostico médico como o TDAH ou TEA é uma conhecimento conceitual que depende de vários outros conceitos para ser compreendido corretamente, portanto, é falível de erros conceituais por parte daquele individuo, que procura compreende-lo. Podemos dizer assim que erros conceituais são distorções cognitivas, pois são padrões de pensamento distorcidos e automáticos que influenciam a forma como interpretamos a realidade. Pelo fato que nossa cognição tem como função fundamental o conhecimento para a nossa sobrevivência, as distorções cognitivas levam a dificuldade de adaptação em diversas situações o que acarreta emoções negativas e comportamentos prejudiciais ao próprio individuo.
Um diagnostico é um conhecimento especifico para fins de tratamento, já o conceito Indivíduo humano refere-se a um ser único e indivisível, com suas características biológicas, psicológicas e sociais distintas. A rotulação é um tipo de distorção cognitiva comum que consiste em colocar rótulos rígidos em si mesmo, numa pessoa ou situação, em vez de se referir o fato específico como ele é realmente. Como exemplo, conceitos referentes a doenças do cérebro como o próprio TDAH e TEA são somente um diagnostico médico e não uma classificação global do individuo humano com todas as suas diferenças e potencialidades. Todo ser humano (homo sapiens) é um animal que se diferencia de outras espécies vivas por possuir como fundamental diferença a inteligência racional mas como seres humanos cada individuo apresenta variações infinitas (ex: cor dos olhos, atitude emocional mais prevalente, habilidades profissionais e etc), o que faz cada individuo diferente mas ao mesmo tempo igual a todos os outros seres humanos em suas características diferenciadoras em relação a outros animais (ex: o tamanho médio da cabeça, tem potencial racionalidade, tem cinco dedos, anda com dois pés e etc). As diferenças e variações de cada indivíduo o fazem seres humanos únicos não passíveis de rotulação, pois não existe um outro individuo com padrão exatamente igual a outro individuo para classificarmos como um padrão único, Rafael Higashi é o Rafael Higashi e não Tsutomu Higashi e nem Leonardo Higashi. Quando alguém afirma, “Eu sou TDAH”, deixa implícito que o mesmo é um diagnóstico médico e não as diferenças e potencialidades únicas do próprio como individuo.
Outro tipo de distorção cognitiva que pode acompanhar o diagnostico é a vitimização que consiste na dificuldade de se responsabilizar pela superação das questões que não são metafisicamente dadas. Metafisicamente dado são fatos da realidade que não podem ser alterada que existe independentemente da nossa escolha. Por exemplo, ter um diagnóstico de TEA , não é uma escolha pois é metafisicamente dado, é um fato da sua realidade, no entanto, o que é opcional, é o que você faz para superar as dificuldades na sua existência, havendo desta maneira a necessidade de se responsabilizar pela própria mudança para sua própria conquista e felicidade.
A catastrofização é também uma distorção cognitiva comum quando se recebe um diagnostico, principalmente pais quando tem um filho(a) com diagnostico de TEA. Catastrofização é pensar que o pior de uma situação irá acontecer, sem levar em consideração a possibilidade de outros desfechos. Acreditar que irá acontecer ou aconteceu será terrível e insuportável. Eventos negativos que podem ocorrer são tratados como catástrofes intoleráveis, em vez de serem vistos em perspectivas. Exemplo “Meu filho não será feliz sendo autista”. Sabemos que pacientes com diagnostico de TEA tem diferentes níveis de dificuldade e também diferentes níveis de superação, isto significa que não é um diagnostico terrível e nem fatal.
Em suma, além do diagnostico correto e o tratamento personalizado serem de fundamental importância para o individuo e para a família, é importante que não se formem distorções cognitivas a respeito do próprio diagnostico para que se aplique o conhecimento médico de forma correta e funcional para o beneficio do próprio individuo e familiares.
Autor: Rafael Higashi, médico (52.74345-3), mestre em medicina, neurologista (RQE: 13728) e nutrólogo (RQE:19627) da Clínica Higashi Rio de Janeiro e Londrina.