A doença de Alzheimer afeta  1 em cada 9 pessoas (11,3%) a partir de 65 anos de idade, estima-se que em 2050, afetará 1 a cada 6 pessoas, ou seja, 17% das pessoas que tenham mais de 65 anos. Um em cada 3 idosos morrem com demência sendo a Doença Alzheimer, a principal causa de demência, isto é mais do que  a mortalidade do câncer de mama e de próstata  juntos, enquanto mortes por doenças cardíacas diminuem os índices de mortalidade, a da doença de Alzheimer aumentou em 145%, nos últimos 20 anos.

Esta situação coloca um desafio real ao nosso futuro, lembrando  que a doença de Alzheimer afeta principalmente a memória, que é uma parte constitutiva do eu, ou seja, nossa identidade.

O Food and Drug Administration (FDA) aprovou no dia 07/06/2021, o uso da medicação Aducanumab (ADUHELM ), em caráter excepcional, é uma importante notícia para a comunidade científica e para sociedade,  pois é  o primeiro medicamento específico no processo fisiopatológico da doença, removendo as placas de proteína beta-amiloide no cérebro.

O ADUCANUMAB é um anticorpo que foi descoberto em pessoas que não desenvolviam a doença de Alzheimer e, consequentemente, não tinham o excesso de placas amilóides no cérebro , a partir daí, foi sintetizado este anticorpo em laboratório para ser usado como medicação, apesar de  pontos a considerar no que chamamos de fase 4 que é última fase de um estudo, será constatado se haverá benefício clínico também no longo prazo, devemos considerar como explica Hegel, grande  filósofo alemão do século XVIII na sua obra Fenomenologia do Espirito: ” A realidade é o próprio desenvolvimento da ideia não é imutável é movimento, isto se renova e se supera e gera progresso”.

 

Para se ter uma ideia do quão  difícil  é a aprovação de medicação pelo FDA, até o ano de 2020, nos EUA, foram aprovados somente 5 remédios para a Doença de Alzheimer e para isso participaram nestes estudos 176.000 pessoas e foram gastos mais de 40 bilhões de dólares em desenvolvimento e pesquisa.

A Doença de Alzheimer foi documentada em 1906 e somente após 87 anos, em 1993, foi lançado a Tacrina, o primeiro remédio para o Alzheimer. Em 1997 foi aprovado o segundo remédio, o Donepezil, em seguida, em 2000 a Rivastigmina (Exelon), em 2001 a Galantamina e por último, até então, em 2003 a Memantina, ou seja,  há 17 anos, o FDA não aprovava uma nova medicação. Fato é que os 4 primeiros medicamentos acima descritos, a Tacrina, a Donepezila, a Rivastigmina e a Galantamina,  agem no mesmo neurotransmissor chamado de acetilcolina , somente  a Memantina, é diferente pois atua no neurotransmissor glutamato. Todos  este remédios agem na consequência química da doença e não na causa, por isso  não evitam a progressão da doença, apesar de poderem agir na melhora funcional do paciente.

Como o Aducanumab é um remédio que remove as placas amiloides depositados no cérebro é necessário confirmar a presença destas placas. Existem dois exames que podem constatar a presença destas placas que são exames que tem a função de ser biomarcadores : o primeiro é realizado através do estudo do exame do liquor , aonde observa-se uma diminuição da proteína amilóide, significando que existe um acúmulo de placas no cérebro, já o outro exame é realizado através do PET-CT cerebral, que através de um contraste radiativo capta imagens destas placas acumuladas no cérebro.

O Aducanumab esta indicado para o estagio pré-demencial  ou deficit cognitivo leve da doença de Alzheimer que é a fase aonde ainda não existe uma alteração na funcionalidade do indivíduo mas existe uma perda cognitiva constatado no exame cognitivo neurológico e também na fase de Demencia Leve aonde já existe uma alteração inicial da funcionalidade do indivíduo.

Este medicamento é aplicado por via endovenosa uma vez a cada quatro semanas, entre 45 a 60 minutos em ambiente Clínico ou Hospital. O resultado do tratamento com ADUHELM  tem mostrado uma redução de 59 a 71% das placas amiloides em um período de 18 meses, sendo o efeito adverso mais comum é o edema e ou microhemorragias focais, denominado em inglês de ARIA (amyloid related imaging abnormalities). O ARIA por edema local é denominado  ARIA-E , quando por microhemorragias é denominado ARIA-H. Normalmente o ARIA não causam sintomas, no entanto, quanto presentes o sintoma mais comum é dor de cabeça, podem ocorrer também confusão mental, tontura, alterações visuais e náusea. O diagnostico do ARIA é feito através de exames de imagem como a Ressonância Magnética Cerebral e os episódios geralmente se resolvem entre 4 a 16 semanas, normalmente sem sequelas clínicas de longo prazo.

No Brasil o Aducanumab ou ADUHELM  ainda  não foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).  A Biogen Brasil Produtos Farmacêuticos Ltda. (Biogen) informa que submeteu à ANVISA no dia 25 de fevereiro de 2021, o dossiê de registro referente ao aducanumabe como terapia investigacional para doença de Alzheimer.

Nós da Clinica Higashi estamos na expectativa pela sua aprovação no Brasil.

Autoria: Dr. Rafael Higashi (CRM: 74345-3), mestre em medicina, neurologista ( RQE 13728) e nutrólogo (RQE 19627) e diretor médico da Clínica Higashi Rio de Janeiro.

Links: